Reiko McQueen

A paisagem tibetana causa-me um fascínio crescente… A sua beleza selvagem é avassaladora, embora para os ignorantes pareça apenas uma imensidão desértica rodeada por montanhas colossais. Bem, Deus detesta os idiotas… e aqui sou Deus!
É impossível atravessar toda a China de moto-quatro, portanto dirijo-me para a cidade santa para cobrar um favor a um velho conhecido…

Antes da ocupação do exército de libertação do povo da China, Lassa parecia saída de um conto de fadas: o seu templo gigantesco, morada do Dalai-Lama, era um farol de paz e compreensão para todos os crentes, palco de celebrações fantásticas e de tradições agora oprimidas.
Actualmente, é um lugar triste, um “red light district” gigantesco pronto para satisfazer o hedonismo dos militares que “zelam” pela província anexada do Tibete.
Entro na cidade pela calada, através de caminhos secretos que a maioria desconhece, dirigindo-me para o palácio do governador, o general Chen.

Farto de brincar ás escondidas, entro pela porta da frente: esmago o crânio do guarda contra a parede da guarita, pego na sua “Norinco” automática e deixo um rasto de cadáveres cheios de chumbo até ao quarto do general. Encontro-o debaixo da cama, num quarto opulento, empunhando corajosamente uma pistola: Descarrega meio pente de balas directamente para a minha cabeça. Au! Tiro o capuz. As chamas da lembrança acendem-se nos seus olhos apavorados: Quando conheci Chen, era um reles subalterno, que devido ao seu “sentido de oportunidade”, subiu a pulso pelas hostes. Um Marxista/Leninista convicto que agora se delicia com as comodidades da vida “ocidental”, um pai de família carinhoso e um enrabador e torturador inqualificável de meninos de rua de toda a Ásia menor; embora seja lixo “humano”, é bastante útil de tempos em tempos. Exponho-lhe o mais sucintamente possível a situação: Hong Kong; menos de três dias; transporte por mar até Osaka; máxima descrição.

No dia seguinte estou “incógnito” numa coluna militar que passará por Kunming, Nanning e chegará finalmente a Hong Kong. A viagem por mar é feita num navio usado por Chen e pelos seus sócios da Tríade para tráfico de pessoas que irão trabalhar em diversas “sweat-shops”,que serão usadas como prostitutas ou retalhadas para fornecer o mercado negro de transplantes.

O Mundo é uma merda.

Em Osaka apanho o comboio-bala até Tóquio. Tenho tempo para consolar uma jovem senhora ocidental que conheci no bar. Está viajar em primeira classe e o seu marido, director de uma grande multinacional, já não lhe dava havia muito o que ela queria. Como a cabra geme…
Contemplo a beleza do Monte Fuji ao longe, das amendoeiras a florir parecendo neve e das belas tetas desta voluptuosa dama ruiva com corpo de deusa. Já vi um milhar de Amanheceres, nada já me surpreende e posso dizer com segurança que não há nada mais bonito no Universo do que o corpo da Mulher…
Foi bom.

Saio na estação de Ryogoku, a três minutos de caminho do Museu de Edo-Tóquio. Meto os fones nos ouvidos, ponho a música no máximo e caminho em direcção ao meu destino.
O tempo para ao som de “New Pain” dos Static-X: A subir as escadas, uma mulher alta e esbelta, com um fato justo de cabedal-vinil e gabardina; botas com saltos de estilete. É asiática, embora mestiça: o seu ar exótico não deixa margem para dúvidas. Lábios volumosos e vermelhos; cabelo negro, forte e escorrido até à cintura. Rendo-me!
De repente é rodeada por diversos tipos engravatados, de óculos escuros e chumaços duvidosos nos seus “blaisers”: certamente pequenas armas automáticas. Arrastam-na à força até um carro que pára sonoramente à frente da estação. Começo a correr, salto no ar e com uma cambalhota, projecto o meu calcanhar na cabeça do atacante mais próximo: omeleta de cérebro instantânea… Os outros sacam de armas silenciadas e metralham-me dos pés à cabeça…
merda! Era o meu casaco favorito! Faço questão de os derrotar desarmado!
A mulher está estendida no chão, boquiaberta perante tal chacina desenfreada.
Limpo a mão cheia de sangue ao casaco e estendo uma mão para a ajudar a levantar. Ela puxa-me para baixo: huuu! Vai haver festa!
Quando dou por mim, tenho uma Colt “Single Action Army” platinada encostada à fronte… Lá se foi a dama em apuros…

-“belo colete à prova de bala” diz ela- consigo sentir o perfume da sua respiração; beijo-a descaradamente.
Ela dispara. Fico com um pedaço de prata a ferver cravado na testa.
Amor à primeira vista!
Ela olha incrédula… “Muito Prazer! Sou a décima terceira encarnação de Bhairava Vajra, a temível divindade guardiã! E você?!”

“Reiko… Reiko McQueen…”

Estou apaixonado!

(Para saber mais sobre o Tibete e a sua riqueza cultural, é favor ler "sete anos no tibete", o relato fascinante na primeira pessoa de Heinrich Harrer, da sua fantástica odisseia e da sua estadia em Lassa nos últimos anos de liberdade do "tecto do mundo"! LIBERTEM O TIBETE!)

E assim diz o Mestre.

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