KONICHI-WA, JAPÃO...

A dor. A agonia excruciante. Estendo os braços e apoio-me ás paredes… Não parece querer ceder… Concentro toda a força contida nas fibras do meu ser. Insuficiente. Os círculos dourados tatuados nos “chacras” do meu corpo brilham como pequenos sóis: As veias parecem querer explodir com a tensão. AAAAAAAAAAARRRRRRRRRRRGGGGGGGGHHHHHHHHHHH!!!

Uma pequena explosão. Água por todo o lado. Raios… Já é a terceira sanita este mês… tenho de deixar de comer merdas e aprender a controlar a energia que queima dentro de mim, qual fornalha incandescente. Toda a disciplina adquirida nos últimos tempos não me permite ainda cagar sem tornar a casa de banho numa zona de calamidade… a maldita prisão de ventre não ajuda…
Embora limpe o rabo a seda embebida em água de lótus, não percebo como é que uma Cabala com tantos recursos, que tem meio mundo por uma trela e a outra metade refém dos seus podres e segredos sombrios, não consegue arranjar outro método para limpar o cú que não seja a uma mão cheia de qualquer coisa… Há recursos humanos a ser desperdiçados algures.

Ser adorado como um Deus torna-se aborrecido passados uns tempos: Tudo em que toco passa a ser sagrado... As pupilas do templo já atingiram um grau de santidade superior ao Papa!
Através de meditação extenuante e umas quantas orgias, as memórias das minhas encarnações prévias tornaram-se claras e todos os seus conhecimentos passaram a ser meus... Sabiam que foi a minha encarnação anterior quem matou o Kennedy?!

Sou um artista marcial sem par em todo o mundo: um único golpe do meu poderoso kung-fu vaporiza ossos, paralisa órgãos internos e causa a meu belo prazer a morte imediata de um indivíduo... extremamente útil para punir os incompetentes que demoraram tanto tempo a encontrar-me. Além do mais, tornei-me um exímio dançarino de Can-Can e um extremoso dono-de-casa.

Virei-me agora para Iaijutsu, a gentil arte de desembainhar uma katana japonesa. Fico durante horas concentrado. Depois, numa fracção de segundo, retiro e volto a colocar a espada na sua bainha de madeira. O olho humano desarmado não consegue acompanhar o movimento... As espadas que possuo não me satisfazem: três artesãos contemporâneos já atestaram pessoalmente a eficácia da minha técnica... não suporto fracassos.

Até que recebo uma boa notícia: a espada de Oishi Kuranosuke vai finalmente ser exibida em público. O Museu de Edo-Tóquio vai promover uma exposição em honra dos 47 Ronins de Ako. É a minha oportunidade de a “adquirir”... A lâmina de uma Katana só fica realmente temperada quando se une com o espírito do seu dono... e não houve espírito mais nobre que o de Oishi...
Nunca desejei nada tão fervorosamente em toda a minha vida... tirando a “Ex”, talvez...
Vou para os meus aposentos. Visto a roupa com que me encontraram em Osaka: umas calças de ganga largas e esfarrapadas, uma T-shirt com uma foto do Dalai-Lama, um casaco de penas vermelho com um capuz enorme e uns “All-Star” todos fodidos.
Meto uns M&Ms, um leitor de MP3 e uma “Playboy” toda amarrotada e cheia de “nódoas” amareladas numa mochila, e dirijo-me para as cavalariças.
Estou já montado numa moto-quatro quando metade dos meus pupilos se aglomera à minha volta: “para onde vai, Mestre?!?!?”
“Para a terra de Amatterasu, a Deusa-Sol... Vou voltar ao Japão!”

E assim diz o Mestre...

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